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30 de outubro de 2010

Evolução

A evolução pode ser definida, em poucas palavras, como o processo de variação e adaptação de populações ao longo do tempo, podendo inclusive provocar o surgimento de novas espécies a partir de uma pré-existente. Desta forma, a grande diversidade de organismos presentes em nosso planeta pode ser explicada por meio desta teoria. 

Registros escritos de grandes filósofos pré-socráticos nos mostram que o pensamento evolucionista não se deu, basicamente, e tampouco unicamente, por Charles Darwin. Aliás, a apresentação desta teoria à Linnean Society, em 1858, foi feita com a coautoria de Alfred Wallace: naturalista menos abastado que, sem o prévio conhecimento das ideias de Darwin, conseguiu compreender da mesma forma o aparecimento e perpetuação de espécies variadas e de formas específicas. 

A evolução por meio da seleção natural, proposta por esses dois pesquisadores, enuncia que indivíduos que possuem características específicas que os tornam mais aptos a viver em determinado ambiente têm mais probabilidade de se reproduzir e gerar descendentes. Quando tais vantagens são hereditárias, a prole poderá adquiri-la, fazendo com que, ao longo do tempo, maior número de indivíduos daquela população a possua, com consequente modificação das características globais daquela espécie. Sob esta ótica, indivíduos menos aptos tendem a desaparecer, resultando em uma população mais bem-adaptada ao ambiente. 

Este fato justifica porque a evolução não deve ser vista como sinônimo de progresso, já que uma mesma característica que garante o sucesso, em um determinado momento, pode não ser tão favorável em outro momento. Quanto a isso, por exemplo, acredita-se que a anemia falciforme surgiu na África, há milhões de anos atrás. Como indivíduos com a doença falciforme eram mais resistentes à malária; por seleção natural, aqueles com suas hemácias normais tinham mais chances de não resistir à parasitose. 

A seleção natural é apenas um dos mecanismos evolutivos conhecidos. Seleção sexual, deriva genética, mutação, recombinação e fluxo genético são os outros, podendo agir de forma a reduzir ou aumentar a variação genética.
(Fonte: Brasil Escola)

Moysés Lopes

De Olho na Atualidade: Superbactéria KPC

O aumento de casos relacionados à chamada "superbactéria", Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), coloca nosso programa de saúde em alerta. Com a fragilidade deste sistema, a remota possibilidade de uma epidemia, assusta nossa população. Esta preocupação se deve à resistência desta bactéria a numerosos agentes antimicrobianos que tornam o tratamento desafiador para conter este microrganismo, o qual geralmente encontra terreno fértil para a proliferação nos hospitais, principalmente nas Unidades de Tratamento Intensivo, onde se depara com pacientes imunologicamente fragilizados.

A Klebsiella é um membro da família Enterobacteriaceae, que pode ser encontrada no ambiente natural (água e solo) e na superfície mucosa dos mamíferos. Nos humanos, os sítios comuns de sua colonização são os tratos gastrintestinal, respiratório e geniturinário. Pertence à flora comensal normal e causa infecções, ditas oportunistas. Esta qualidade de produzir doença está ligada a mutações que a tornaram patogênica, ou seja, com capacidade de aderir a tecidos e a invadi-los, de produzir toxinas, etc.

A resistência bacteriana é um problema frequente e importante que se desenvolveu quase concomitante com a descoberta dos antibióticos, que, para serem eficazes, devem atingir as funções vitais da bactéria, tendo como resultado uma ação bacteriostática ou bactericida (capacidade de impedir o desenvolvimento do microrganismo ou de matá-lo). Nesse contexto, várias bactérias apresentam habilidade de desenvolver mecanismos de resistência por alterações genéticas na célula microbiana.

O genoma bacteriano contém todas as informações necessárias às funções do microrganismo. Estas informações (genótipo) organizam-se em forma de genes, os quais se constituem de sequências de DNA específicas, que codificam a sequência de aminoácidos das proteínas. Uma alteração no DNA pode levar a alterações na formação da proteína, que pode alterar o fenótipo bacteriano. Assim, a KPC foi uma bactéria comensal que sofreu mutações no decorrer do tempo.

(Fonte: Diário do Nordeste)


Moysés Lopes

Enem 2010: é preciso saber conteúdos, além de interpretar e compreender fenômenos

Menos conteúdo, mais compreensão. A tônica das questões do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é diferente dos vestibulares que focam em conteúdos. Para todas as áreas de conhecimento abordadas, a prova busca avaliar o domínio de linguagens, compreensão de fenômenos, resolução de situações-problema, construção de argumentos e elaboração de propostas.
"O Enem avalia as competências que o aluno adquiriu durante sua vida escolar, não depende de ter gigantesco conhecimento das matérias", explica Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora do Curso e Colégio Objetivo
Ela orienta os estudantes a não ter preocupação, ao se depararem com uma parte de uma matéria que não sabem, pois o maior cuidado é compreender a pergunta. "Muitas questões trazem a resposta no próprio enunciado", afirma o coordenador de vestibular do Anglo, Alberto Francisco do Nascimento.
O foco em interpretação de texto e compreensão de fenômenos não se dão sobre conteúdos aleatórios e não isentam os alunos do conhecimento das disciplinas. “Apesar da sistemática diferente de elaborar questões, tem que saber física, química, biologia, matemática, língua portuguesa, todas as matérias”, diz Nascimento, do Anglo. 
A contextualização é outra marca do Enem. Assuntos do cotidiano estão presentes nas questões, o que acaba tornando muitas delas interdisciplinares.
Tendo em vista este perfil da prova, confira os conteúdos e características mais prováveis das principais disciplinas das provas do Enem. Os tópicos foram citados pelo coordenador geral do Curso e Colégio Etapa, Edmilson Motta, e pelos professores Daniel Teodoro e Simone Goh, do cursinho Universitário.

Provas do primeiro dia:
Química: a chamada “química do sistema produtivo”, que está relacionada a energia, combustíveis, água, aquecimento global, lixo. Foco na parte conceitual em detrimento de cálculos.
Física: o grande tema é energia, com subtemas como conservação e utilização de energia, por ser um assunto muito discutido na mídia e nas Ciências. Parte conceitual e com muitas contas.
Biologia: ecologia, evolução e parasitose.
História: prova baseada em interpretação de texto e história contemporânea. No ano passado, das 28 questões, 21 tinham esse perfil.
Geografia: é a matéria interdisciplinar por excelência, aparece associada a conteúdos de outras áreas. Quando está mais focada, abrange geografia física e do Brasil, além de cartografia, por estar relacionada à interpretação de mapas. Geografia do mundo é rara no Enem.

Provas do segundo dia:
Português: literatura e gramática sempre por meio de textos, forte exigência de leitura. As obras literárias são mencionadas com propósito de engajamento social, de modo que são abordadas as grandes correntes como modernismo, romantismo e realismo. A gramática aparece relacionada à leitura dos diferentes gêneros, desde os clássicos até os contemporâneos, como um fragmento de bate-papo pela internet. O objetivo é extrair entendimento da língua que o estudante pratica.
Inglês ou espanhol: a prova deve ser baseada em texto, com foco em vocabulário e não em gramática.
*Atenção: como esta é a primeira vez que o Enem inclui língua estrangeira, o formato da avaliação ainda é surpresa.
Artes: história da arte, correntes artísticas, dentro do contexto da interpretação de textos. Possibilidade de diferentes códigos para compreensão, como charge, quadrinhos, pintura, peças de publicidade.
Matemática: geometria básica – áreas de figuras planas e suas relações, volume de figuras espaciais e suas relações, porcentagem, análise combinatória, probabilidade, estatística (básica), interpretação de tabelas, razão e proporção. São temas adequados à contextualização, que é a característica do Enem. 
Redação: Temas de cunho social predominam. Assuntos existencialistas não são típicos do Enem, mas nada impede que sejam propostos. É apresentada uma questão para a qual o candidato deve apresentar uma solução. Não precisa ser uma resposta fechada, desde que mantenha coerência.
* Uma dica é procurar se informar, com antecedência, do peso que a redação tem nos vestibulares em que o aluno está inscrito. Para alguns processos seletivos, a redação do Enem não conta. Portanto, se este for seu caso, tente se programar para dedicar menos tempo e esforços na redação. Mas não deixe de fazê-la da melhor forma que puder!
Fonte: Uol Vestibular
Moysés Lopes

29 de outubro de 2010

REGÊNCIAS TRINAS (1831 - 1835)

Regência Trina Provisória (1831)

Primeiro governo que sucedeu a queda do imperador Dom Pedro I, o período regencial iniciou-se com a formação de dois governos trinos. O primeiro deles ficou conhecido como Regência Trina Provisória, onde o calor das transformações políticas deu margem para a formação improvisada de um novo governo.

Os moderados logo assumiram o poder com o intuito de frear as agitações políticas da época. Inicialmente, o governo de Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, José Joaquim Carneiro de Campos e Francisco de Lima e Silva reintegraram o chamado “ministério dos brasileiros” e anistiou os presos políticos. A Câmara dos Deputados tiveram seus poderes ampliados, tendo o direito de interferir nas ações do governo regencial.

Atuando por breves dois meses, a Regência Trina Provisória deu condições para que um novo governo fosse escolhido. Em 17 de junho de 1831, a assembléia promoveu um processo de escolha da chamada Regência Trina Permanente, que governou entre os anos de 1831 e 1835.

Regência Trina Permanente (1831 – 1835)

Nesse novo governo – agora formado por Francisco Lima e Silva, João Bráulio Muniz e José da Costa Carvalho – organizou-se um gabinete ministerial conservador. Essa medida visava conter os movimentos populares que pressionaram o governo de Dom Pedro I. O Ministério da Justiça foi delegado ao padre Diogo Antônio Feijó, que se incumbiu da tarefa de retaliar quaisquer revoltas que ameaçassem a ordem nacional ou não reconhecessem os poderes da nova administração.

Para tal Feijó instituiu-se a Guarda Nacional, uma espécie de milícia que seria controlada por representantes das elites locais. Muitos dos chefes de tais milícias eram fazendeiros que compravam junto ao governo o título de coronel. È nesse momento em que observamos a ascensão dos poderes políticos regionais dos latifundiários brasileiros. Essa concessão de poder, ao mesmo tempo em que fazia dos coronéis representantes do Estado, também se transformava em instrumento para que as elites locais assegurassem seus interesses particulares.

Logo no primeiro ano, observaram-se revoltas incitadas por militares. O 26º Batalhão de Infantaria e o Batalhão de Polícia, ambos localizados no Rio de Janeiro, foram palco de revoltas contra a ação regencial. Dois meses depois, em julho de 1831, um motim ocorreu no Teatro Municipal Fluminense. Em 7 de outubro de 1832, o Batalhão de Artilharia da Ilha das Cobras também organizou uma agitação anti-regencial. Enxergando o Exército como um reduto de manifestações antigoverninstas, Feijó resolveu tomar novas medidas.

Entre outras ações, a regência determinou a renovação dos quadros militares. A partir de então, os novos integrantes das forças armadas deveriam dar provas de que eram fiéis ao conservadorismo político e à centralização dos poderes. O efetivo de homens foi diminuído com a dispensa do serviço e ofereceram maiores facilidades àqueles oficiais que desejassem sair do Exército.

Gradativamente, Feijó buscou ampliar seu raio de atuação política. Dessa maneira, ele buscou criar condições pelas quais ele tramaria um golpe político e assim tornar-se-ia único regente. Não tendo condições para assegurar tal manobra, Feijó e o governo trino foram obrigados a conceder algumas exigências liberais. Em 1834, o Ato Adicional promoveu algumas reformas que visavam atender algumas exigências liberais.

Segundo seu texto, a províncias agora poderiam criar suas próprias Assembléias Legislativas, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se uma região politicamente autônoma, o poder Moderador foi extinto e o próximo governo regencial deveria ser comandado por um único regente. Nesse conjunto de ações as regências trinas tiveram fim e deram abertura para o governo regencial de Diogo Antônio Feijó.


Emanuella Sousa

REGÊNCIA UNA DE FEIJÓ

Atendendo as medidas previstas no Ato Adicional de 1834, foram feitas eleições para que um novo governo chegasse ao poder. Superando a concorrência liberal, Diogo Antônio Feijó tornou-se regente com um total de 2.826 votos. O baixo número de eleitores refletia a exclusão política e a falta de representatividade das instituições políticas da época.

Mesmo tendo alcançado a maioria dos votos, o governo de Feijó foi obrigado a resistir a diversas manifestações oposicionistas. Até mesmo os liberais moderados, aliados naturais de Feijó, acusavam o governo de tolerante e indeciso. Além disso, os problemas de saúde de Feijó colocavam em xeque a estabilidade governamental. Nesse mesmo período, o interesse em se desenvolver uma estrutura fundiária cafeeira, intensificou a participação das elites nos quadros políticos.

As tendências políticas daquela época agora se agrupavam entre progressistas, de tendência liberal, e os regressistas, partido de orientação conservadora formado pelos grandes donos de terra, comerciantes e funcionários públicos. No governo de Feijó, o dilema da representação política e da centralização de poderes abriu espaço para a deflagração de diferentes revoltas.

No ano de 1835, a ocorrência da Cabanagem no Pará e da Farroupilha no Rio Grande do Sul expressou a tensão entre os diferentes interesses políticos da época, Ao invés de dar abertura às tendências liberais, as conturbações do período fortaleceram as alas conservadoras que exigiam a estabilidade sócio-política necessária para satisfazer o interesse das elites agrárias do país.

Fisicamente incapacitado e desprovido de consistente apoio político, Feijó decidiu renunciar ao cargo de regente, em 1837. Antes de abandonar o cargo, ele nomeou o senador pernambucano Pedro de Araújo Lima como titular na pasta do Império. Ao tomar essa atitude, Feijó colocou Araújo Lima como substituto direto ao cargo de regente.


Emanuella Sousa

REGÊNCIA UNA DE ARAÚJO LIMA

Após a abdicação do regente Feijó, uma nova eleição foi realizada em abril de 1838. Entre os principais concorrentes ao cargo de regente estavam o liberal Antônio Francisco de Paula Holanda Cavalcanti e o fazendeiro pernambucano Araújo Lima. Em um período em que as primeiras revoltas contra o governo explodiam a vitória do conservador Araújo Lima consolidou-se sem maiores problemas.

Compondo um gabinete de formação estritamente conservadora, a regência de Araújo Lima representou o retrocesso das conquistas liberais alcançado com a aprovação do Ato Adicional de 1834. Em seu governo, as primeiras revoltas eram consideradas uma conseqüência das liberdades oferecidas pelo Ato Adicional. Dessa forma, foi homologado, em maio de 1840, a chamada Lei Interpretativa do Ato Adicional, que revisou alguns pontos da reforma de 1834.

Com a reforma, as províncias perderam parte de suas atribuições político-admininstrativas. De acordo com a nova lei, o governo central teria o direito de nomear funcionários públicos e funcionários de polícia e justiça. Em meio às revoltas e grandes derrotas políticas, os liberais se uniram em torno do projeto de antecipação do coroamento de Dom Pedro II.

Reunidos no chamado Clube da Maioridade, os representantes liberais argumentavam que a chegada de Dom Pedro II ao trono ofereceria condições para que os problemas políticos e as revoltas fossem finalmente contornados. Na medida em que os conservadores não tinham habilidade para resolver os problemas vigentes, a campanha em prol da antecipação do Segundo Reinado ganhava cada vez mais força.

Em julho de 1840, não mais resistindo às pressões liberais, o governo regencial chegou ao seu fim com a coroação do jovem Dom Pedro II. Tal episódio ficou conhecido como o Golpe da Maioridade. Mesmo o golpe representando um avanço das alas liberais, o início do Segundo Reinado não configurou uma reforma estrutural das práticas políticas da época.

Vinculados à elite latifundiária, tanto liberais quanto conservadores, se uniram em torno de um mesmo projeto político no Segundo Reinado. Dessa forma, o fim da regência em nada remodelou os privilégios e direitos garantidos aos antigos grupos sociais que controlavam o país.


Emanuella Sousa

OS PARTIDOS DO PERÍODO REGENCIAL

A saída de Dom Pedro I do governo imperial revelou as tensões e instabilidades que marcavam o processo de formação do Estado Brasileiro. Por outro lado, esse mesmo evento serviu para que os brasileiros ganhassem maior espaço na vida política brasileira daquela época. Até então, diversos portugueses ocupavam cargos públicos políticos de suma importância e determinavam dessa forma uma relativa exclusão de alguns agentes políticos nacionais que participaram do nosso processo de emancipação.

Nesse novo contexto, vemos a formação de partidos políticos que ofereciam diferentes projetos de condução da vida política nacional após a saída do imperador. Ao falarmos da existência desses partidos políticos, não devemos imaginar que estes se organizavam de modo formal, como vemos hoje. Geralmente, os partidários eram pessoas de classes sociais próximas entre si e que, em ocasiões diversas, se reuniam para debater as formas de organização da nação brasileira.

Entre as várias tendências apresentadas na época, vemos que os chamados “restauradores”, também conhecidos como “caramurus” eram os mais conservadores da época. Formado essencialmente pela figura de comerciantes portugueses, burocratas e militares, estes defendiam o retorno do imperador Dom Pedro I para o Brasil. Defendiam também um regime monárquico fortemente centralizado e criticavam fortemente os demais partidos políticos da época.

Popularmente designados como “chimangos”, os liberais moderados não simpatizavam com o regime absolutista e contavam com a presença de aristocratas da porção centro sul do país. Apesar de não concordarem com o absolutismo, defendiam a manutenção de um regime monárquico capaz de defender os interesses da elite agroexportadora do país. Buscavam equilibrar o aumento das funções do Poder Legislativo com uma autoridade monárquica que se mostrasse compromissada com as elites nacionais.

Mais heterogêneos em sua formação social, os liberais exaltados – igualmente conhecidos como farroupilhas ou jurujubas – acreditavam que a autonomia das províncias deveria ser aumentada. Integrado por pequenos comerciantes e homens livres em posses, esse partido tinha uma relativa influência entre as camadas populares urbanas do território nacional. Entre outras coisas, eles reivindicavam reformas políticas mais amplas, o fim do Conselho de Estado e do Poder Moderador e, em alguns casos mais extremos, a criação de uma República.

Ao longo do tempo, a hegemonia política exercida pelos liberais moderados acabou dando origem a uma nova subdivisão que gerou os partidos regressista e progressista. O primeiro tinha uma orientação mais conservadora, já os progressistas acreditavam na necessidade de se fazer algumas concessões para os exaltados. De fato, esse diálogo com os grupos mais liberais acabou estabelecendo a aprovação do Ato Adicional de 1834, que deu maior liberdade às províncias.

Chegado o Segundo Reinado, as tendências políticas brasileiras ficaram essencialmente polarizadas entre o Partido Liberal, de origem progressista, e o Partido Conservador, organizado por políticos de tendência regressista. Nesse contexto, acabamos percebendo que os partidos que se consolidaram no cenário político nacional tinham poucas diferenças entre si. Afinal de contas, grande parte das figuras políticas desse período compartilhava de uma mesma origem social.


Emanuella Sousa

O GOLPE DA MAIORIDADE

Ao longo do período regencial, a disputas entre as tendências políticas promoveram a instalação de um clima instável. De um lado, os liberais defendiam a concessão de maiores liberdades aos governos locais com a criação de poderes legislativos e a eleição de assembleias regenciais. Por outro, os conservadores entendiam que a manutenção de um sistema político centralizado era pressuposto fundamental para que a unidade territorial e política fossem seguramente preservadas.

Em meio a essa contenda, os liberais atingiram uma primeira vitória ao aprovarem o chamado Ato Adicional, em 1834. Pela emenda, as províncias poderiam organizar as suas próprias assembleias legislativas. Contudo, apenas seis anos mais tarde, os conservadores deram sua reposta com a Lei Interpretativa do Ato Adicional. Segundo o novo texto, os direitos das assembleias locais seriam tolhidos e o Poder Executivo central teria maiores atribuições.

Paralela a essa concorrência política, várias províncias foram palco de violentas rebeliões que respondiam ao desmando e à crise econômica que se perfilavam no país. Nesse contexto, ficava mais difícil a sustentação da hegemonia conservadora nos principais cargos regenciais. Já em 1839, políticos liberais arquitetaram um movimento defendendo a antecipação da maioridade de Dom Pedro II, que então possuía apenas quatorze anos de idade.

A intenção dos liberais era a de apoiar a chegada de D. Pedro II ao governo, aproveitando de sua inexperiência para assumir importantes funções políticas. No início de 1840, o político liberal Antônio Carlos de Andrada e Silva criou o chamado Clube da Maioridade. Com o apoio da imprensa, a proposta de antecipação ganhou as ruas da capital e incitou algumas manifestações de apoio popular. Para muitos, a imagem jovem e instruída de D. Pedro II representava um tentativa de ordenação política e social.

O movimento não sofreu oposição dos conservadores, que poderiam ser facilmente acusados de repúdio ao regime monárquico. Em maio de 1840, um projeto de lei apresentado à Câmara realizou o pedido de antecipação da maioridade de Dom Pedro II. No dia 23 de julho, com expressa concordância do jovem monarca, o fragilizado governo conservador aprovou a medida. Naquele momento, o Segundo Reinado inaugurou uma das mais extensas fases de nossa história política.


Emanuella Sousa

22 de outubro de 2010

ECONOMIA NO PERÍODO REGENCIAL

Ao debatermos sobre as instabilidades do período regencial, muito se fala sobre as disputas políticas concebidas na época. As diferenças políticas entre liberais e conservadores seria ponto fundamental na promoção dos levantes que se engendram entre 1831 e 1840. Contudo, apesar da relevância das questões políticas, não podemos deixar de falar sobre a situação econômica do Brasil na época, que também influiu nas agitações que ameaçaram a ordem regencial.

Os problemas econômicos vividos na Regência estavam intimamente ligados às catastróficas medidas adotadas durante os períodos Joanino e no Primeiro Reinado. Prestes a voltar para sua terra natal, o rei Dom João VI tomou os recursos financeiros disponíveis nos cofres públicos. Logo em seguida, D. Pedro I gastou fortunas para conter revoltas e pagar dívidas junto ao nosso maior credor, a Inglaterra.

Se, por um lado, a desventura de nossos dirigentes políticos impedia o crescimento econômico, outras questões de ordem internacional também prestavam sua devida contribuição. Na região Nordeste, a produção açucareira sofria os impactos impostos pela concorrência Antilhana e a produção de açúcar de beterraba na Europa. Por isso, as sacas de açúcar brasileiras tiveram seu valor depreciado, prejudicando várias regiões econômicas nordestinas.

A possibilidade de se modernizar a economia industrial por meio da importação de maquinário também era bastante complicada. A crise do setor financeiro impedia a realização de linhas de crédito destinadas à criação de novas indústrias. Além disso, boa parte dos recursos disponíveis eram gastos com a obtenção dos produtos ingleses, que faziam concorrência por conta de seu preço acessível e a visível qualidade de suas mercadorias.

A economia algodoeira também apresentava números tímidos mediante a concorrência do mesmo produto cultivado em terras norte-americanas. A mesma situação competitiva prejudicava igualmente a exportação de outros gêneros como o couro, o fumo, o cacau e o arroz. Com isso, podemos perceber que o setor agrícola como um todo passava por uma fase bastante complicada, permitindo o acirramento dos ânimos contra a inoperância política do governo central na economia.

A economia brasileira só deu sinais positivos com a rápida ascensão de um produto que começou a ser explorado durante a regência: o café. A ampliação de seu mercado consumidor formou uma elite de grandes produtores agrícolas assentados no uso da grande propriedade e da mão de obra escrava. Nesse primeiro momento, o Vale do Paraíba, entre Rio de Janeiro e São Paulo, foi a principal área de produção cafeeira.


Emanuella Sousa

PERÍODO REGENCIAL - A GUARDA NACIONAL

Durante o período regencial, observamos a eclosão de vários levantes que questionavam a autoridade exercida pelos novos mandatários do poder. Ao manter a estrutura política centralizadora do governo imperial, os regentes apenas eclodiram a forte insatisfação que se dirigia contra o autoritarismo da época. Vale ainda lembrar que, nessa mesma época, os quadros do exército brasileiro eram bastante limitados e não poderiam controlar todas as situações de conflito.

Buscando resolver tal situação, os dirigentes da regência autorizaram a criação de um novo organismo armado para assegurar a estabilidade política do país. Em agosto de 1831, a Guarda Nacional foi criada com o propósito de defender a constituição, a integridade, a liberdade e a independência do Império Brasileiro. Além disso, pelo poder a ela concedido, seus membros deveriam firmar o compromisso de sedimentar a tranquilidade e a ordem pública.

Para formar esse novo braço armado, as autoridades oficiais estipularam que todo o brasileiro, entre 21 e 60 anos de idade, que tivesse amplos direitos políticos, deveria compor os quadros dessa instituição. Ao limitá-la somente aos chamados “cidadãos ativos” (eleitores e elegíveis), o governo excluía qualquer possibilidade de participação de pessoas de origem popular. De fato, temos aí um claro indício de quais interesses a Guarda Nacional deveria verdadeiramente assegurar.

Outro fator que comprova tal perspectiva pode ser visto na maneira pela qual os quadros dirigentes dessa mesma instituição eram estipulados. A maioria esmagadora dos dirigentes da Guarda comprava o seu título de “coronel” junto ao Estado Brasileiro. Com isso, vários proprietários de terra adquiriram esta patente e foram responsáveis pela organização local das milícias que deveriam, teoricamente, apenas manter a ordem.

Na prática, os membros da Guarda Nacional representaram mais uma situação histórica marcada pelo abuso das instituições públicas para fim estritamente particulares. Com o passar do tempo, os “coronéis” valiam-se de suas tropas armadas para simplesmente preservar seus interesses econômicos e políticos pessoais. Além disso, serviram como severo instrumento de repressão contra uma população que não se via representada no mando de líderes políticos oriundos das elites.


Emanuella Sousa

17 de outubro de 2010

CURIOSIDADES

ASTROFÍSICA

Galáxias jovens também cresceram 'mamando' gás que enchia o Universo antigo, diz estudo

O Globo
Ilustração de uma jovem galáxia sugando o gás em volta dela para formar novas estrelas. Foto: Divulgação / ESONovas observações feitas pelo Observatório Meridional Europeu (ESO) pela primeira vez deram evidências diretas de que jovens galáxias podem crescer sugando o gás gelado em volta delas e usando-o como combustível para a formação de novas estrelas. Nos primeiros bilhões de anos depois do Big Bang, a massa das galáxias mais comuns cresceu rapidamente e entender como isso aconteceu é um dos maiores problemas da astrofísica moderna. Os resultados do estudo foram publicados na edição desta quinta-feira da revista "Nature".
As primeiras galáxias se formaram antes de todo o Universo ter completado um bilhão de ano e eram bem menores do que os sistemas gigantes - como a Via Láctea - que vemos hoje. Assim, os cientistas desconfiam de que de alguma forma o tamanho médio das galáxias evoluiu. Galáxias frequentemente colidem e se fundem para formar sistemas maiores e este processo é considerado um importante fator de crescimento. Mas, agora, uma via adicional, mais gentil, está sendo proposta.
Uma equipe de astrônomos usou o telescópio VLT do ESO, no Chile, para testar essa ideia de que as galáxias jovens também teriam crescido ao sugarem o hidrogênio e o hélio que preenchia o antigo Universo, criando estrelas com este material. Assim como empresas podem se expandir por fusões ou pela contratação de mais funcionários, as primeiras galáxias também podiam crescer de duas maneiras, fundindo-se com outras ou adicionando mais material.
"Os novos resultados do VLT nos dão as primeiras evidências de que a adição de gás primitivo realmente aconteceu e era suficiente para alimentar uma vigorosa criação de estrelas e o aparecimento de galáxias maciças no jovem Universo", diz Giovanni CResci, chefe da equipe que fez a descoberta, que terá um grande impacto na compreensão da evolução do Universo do Big Bang até o presente, reescrevendo as teorias sobre a formação e evolução das galáxias.
prof.wellyson

REVISÃO DE FÍSICA

Resistores
São peças utilizadas em circuitos elétricos que tem como principal função converter energia elétrica em energia térmica, ou seja, são usados como aquecedores ou como dissipadores de eletricidade.
Alguns exemplos de resistores utilizados no nosso cotidiano são: o filamento de uma lâmpada incandescente, o aquecedor de um chuveiro elétrico, os filamentos que são aquecidos em uma estufa, entre outros.
Em circuitos elétricos teóricos costuma-se considerar toda a resistência encontrada proveniente de resistores, ou seja, são consideradas as ligações entre eles como condutores ideais (que não apresentam resistência), e utilizam-se as representações:
Associação de Resistores
Em um circuito é possível organizar conjuntos de resistores interligados, chamada associação de resistores. O comportamento desta associação varia conforme a ligação entre os resistores, sendo seus possíveis tipos: em sérieem paralelo e mista.

Associação em Série

Associar resistores em série significa ligá-los em um único trajeto, ou seja:
Como existe apenas um caminho para a passagem da corrente elétrica esta é mantida por toda a extensão do circuito. Já a diferença de potencial entre cada resistor irá variar conforme a resistência deste, para que seja obedecida a 1ª Lei de Ohm, assim:
Esta relação também pode ser obtida pela análise do circuito:
Sendo assim a diferença de potencial entre os pontos inicial e final do circuito é igual à:
Analisando esta expressão, já que a tensão total e a intensidade da corrente são mantidas, é possível concluir que a resistência total é:
Ou seja, um modo de se resumir e lembrar-se das propriedades de um circuito em série é:
Tensão (ddp) (U)se divide
Intensidade da corrente (i)se conserva
Resistência total (R)soma algébrica das resistência em cada resistor.

 Associação em Paralelo: 
Ligar um resistor em paralelo significa basicamente dividir a mesma fonte de corrente, de modo que a ddp em cada ponto seja conservada. Ou seja:
Usualmente as ligações em paralelo são representadas por:
Como mostra a figura, a intensidade total de corrente do circuito é igual à soma das intensidades medidas sobre cada resistor, ou seja:
Pela 1ª lei de ohm:
E por esta expressão, já que a intensidade da corrente e a tensão são mantidas, podemos concluir que a resistência total em um circuito em paralelo é dada por:

Associação Mista:

Uma associação mista consiste em uma combinação, em um mesmo circuito, de associações em série e em paralelo, como por exemplo:
Em cada parte do circuito, a tensão (U) e intensidade da corrente serão calculadas com base no que se conhece sobre circuitos série e paralelos, e para facilitar estes cálculos pode-se reduzir ou redesenhar os circuitos, utilizando resistores resultantes para cada parte, ou seja:
Sendo:

Geradores de corrente elétrica
A corrente sempre existe enquanto há diferença de potencial entre dois corpos ligados, por um condutor, por exemplo, mas esta tem pequena duração quando estes corpos são eletrizados pelos métodos vistos em eletrostática, pois entram rapidamente em equilíbrio.
A forma encontrada para que haja uma diferença de potencial mais duradoura é a criação de geradores elétricos, que são construídos de modo que haja tensão por um intervalo maior de tempo.
Existem diversos tipos de geradores elétricos, que são caracterizados por seu princípio de funcionamento, alguns deles são:

Geradores luminosos

São sistemas de geração de energia construídos de modo a transformar energia luminosa em energia elétrica, como por exemplo, as placas solares feitas de um composto de silício que converte a energia luminosa do sol em energia elétrica.

Geradores mecânicos

São os geradores mais comuns e com maior capacidade de criação de energia. Transformam energia mecânica em energia elétrica, principalmente através de magnetismo. É o caso dos geradores encontrados em usinas hidroelétricas, termoelétricas e termonucleares.

Geradores químicos

São construídos de forma capaz de converter energia potencial química em energia elétrica (contínua apenas). Este tipo de gerador é muito encontrado como baterias e pilhas.

Geradores térmicos

São aqueles capazes de converter energia térmica em energia elétrica, diretamente.

Quando associados dois, ou mais geradores como pilhas, por exemplo, a tensão e a corrente se comportam da mesma forma como nas associações de resistores, ou seja:
  • Associação em série: corrente nominal e tensão é somada.
  • Associação em paralelo: corrente é somada e tensão nominal.
 Corrente contínua e alternada
Se considerarmos um gráfico i x t (intensidade de corrente elétrica por tempo), podemos classificar a corrente conforme a curva encontrada, ou seja:

Corrente contínua

Uma corrente é considerada contínua quando não altera seu sentido, ou seja, é sempre positiva ou sempre negativa.
A maior parte dos circuitos eletrônicos trabalha com corrente contínua, embora nem todas tenham o mesmo "rendimento", quanto à sua curva no gráfico i x t, a corrente contínua pode ser classificada por:

Corrente contínua constante
Diz-se que uma corrente contínua é constante, se seu gráfico for dado por um segmento de reta constante, ou seja, não variável. Este tipo de corrente é comumente encontrado em pilhas e baterias.

Corrente contínua pulsante
Embora não altere seu sentido as correntes contínuas pulsantes passam periodicamente por variações, não sendo necessariamente constantes entre duas medidas em diferentes intervalos de tempo.
A ilustração do gráfico acima é um exemplo de corrente contínua constante.
Esta forma de corrente é geralmente encontrada em circuitos retificadores de corrente alternada.

Corrente alternada

Dependendo da forma como é gerada a corrente, esta é invertida periodicamente, ou seja, ora é positiva e ora é negativa, fazendo com que os elétrons executem um movimento de vai-e-vem.
Este tipo de corrente é o que encontramos quando medimos a corrente encontrada na rede elétrica residencial, ou seja, a corrente medida nas tomada de nossa casa.

15 de outubro de 2010

NOVOS TRATADOS DE LIMITES DA AMÉRICA PORTUGUESA

Entre os séculos XVI e XVII, observamos que a vigência da União Ibérica (1580 – 1640) e o desenvolvimento de outras ações estipularam um novo desenho ao processo de ocupação do espaço colonial brasileiro. Além da invalidação do Tratado de Tordesilhas (dada no tempo em que Espanha e Portugal foram governados por uma mesma coroa), a ação dos bandeirantes, pecuaristas e jesuítas tiveram grande peso para que o nosso território se tornasse maior.

Chegando ao século XVIII, notamos que os limites das colonizações lusitana e hispânica nas Américas deveriam ser repensados a partir de critérios que estivessem em concordância com a ocupação desenvolvida. De fato, observamos que este não foi um processo de simples execução. Afinal de contas, a reformulação dos limites coloniais envolvia o atendimento de interesses políticos que extrapolavam a demanda dos governos responsáveis pela fabricação de tais contratos.

Em 1713, um primeiro tratado foi assinado com o objetivo de se definir o processo de ocupação da região amazônica. Firmado entre França e Portugal, esse primeiro tratado estabeleceu a retirada dos franceses da margem esquerda do Rio Amazonas e instituiu o rio Oiapoque como a divisa natural para as terras francesas e lusitanas na região norte do território. Tal tratado foi assinado na cidade holandesa de Utrecht, que logo serviu para outra negociação entre Espanha e Portugal.

No ano de 1715, Portugal e Espanha voltaram à mesma cidade holandesa para definirem questões de limites na região sul do território. Por esse acordo, os espanhóis reconheceram a colônia de Sacramento, que ficava nas proximidades da cidade de Buenos Aires. Tal acordo acabou gerando a insatisfação dos castelhanos, que fundaram a colônia de Montevidéu no ano de 1726. Onze anos depois, visando garantir o controle da região sul, os portugueses fundaram a colônia do Rio Grande.

Visto como um dos mais importantes acordos diplomáticos do século XVIII, o Tratado de Madri, de 1750, reivindicava a adoção do princípio de “uti possidetis” (ou seja, posse útil da terra) para que as fronteiras portuguesas e espanholas fossem finalmente definidas. Por meio dessa nova medida, os limites de fronteira nas regiões do Mato Grosso e Amazônia foram garantidos. Além disso, esse mesmo acordo propôs a entrega da colônia de Sacramento aos espanhóis em troca da região dos Sete Povos das Missões.

A promoção desse acordo acabou fomentando o desenvolvimento das chamadas “Guerras Guaraníticas” (1753 - 1756), em que padres jesuítas da região de Sete Povos se recusaram a serem transferidos para outras terras ou a se submeterem ao domínio português. Com esse conflito, observamos que o Tratado de Madri teve de ser anulado até a formulação de outro acordo capaz de resolver os problemas da região sul. Foi então que, em 1777, o Tratado de Idelfonso foi assinado entre Portugal e Espanha.

Por esse novo acordo, os portugueses teriam sua autoridade nas regiões do Rio Grande e Santa Catarina asseguradas. Em contrapartida, os espanhóis ficariam definitivamente com as colônias de Sacramento e a região de Sete Povos das Missões. Apesar da nova determinação, os portugueses acabaram se mantendo no controle das regiões jesuíticas do sul. Desse modo, o Tratado de Badajós, de 1801, acabou oficializando o domínio português nos Sete Povos das Missões.


Emanuella Sousa

UNIÃO IBÉRICA

No ano de 1578, durante a batalha contra os mouros marroquinos em Alcácer-Quibir, o rei português dom Sebastião desapareceu. Esse evento iniciou uma das mais complicadas crises sucessórias do trono português, tendo em vista que o jovem rei não teve tempo suficiente para deixar um descendente em seu lugar. Nos dois anos seguintes, o cardeal dom Henrique, seu tio-avô, assumiu o Estado português, mas logo morreu sem também deixar herdeiros.

Imediatamente, Filipe II, rei da Espanha e neto do falecido rei português D. Manuel I, se candidatou a assumir a vaga deixada na nação vizinha. Para alcançar o poder, além de se valer do fator parental, o monarca hispânico chegou a ameaçar os portugueses com seus exércitos para que pudesse exercer tal direito. Com isso, observamos o estabelecimento da União Ibérica, que marca a centralização dos governos espanhol e português sob um mesmo governo.

A vitória política de Filipe II abriu oportunidade para que as finanças de seu país pudessem se recuperar após diversos gastos em conflitos militares. Para tanto, tinha interesse em estabelecer o comércio de escravos com os portugueses, que controlavam tal atividade na costa africana. Além disso, o controle da maior parte das possessões do espaço colonial americano permitiria a ampliação dos lucros obtidos através da arrecadação tributária.

Apesar de todas estas vantagens, o imperador espanhol teve a astúcia de manter uma significativa parcela dos privilégios e posições ocupadas por comerciantes e burocratas portugueses. No Tratado de Tomar, assinado em 1581, Filipe II assegurou que os navios portugueses controlassem o comércio com a colônia, a manutenção das autoridades lusitanas no espaço colonial brasileiro e o respeito das leis e costumes brasileiros.

Mesmo preservando aspectos fundamentais da colonização lusitana, a União Ibérica também foi responsável por algumas mudanças. Com a junção das coroas, as nações inimigas da Espanha passam a ver na invasão do espaço colonial lusitano uma forma de prejudicar o rei Filipe II. Desta maneira, no tempo em que a União Ibérica foi vigente, ingleses, holandeses e franceses tentaram invadir o Brasil.

Entre todas essas tentativas, podemos destacar especialmente a invasão holandesa, que alcançou o monopólio da atividade açucareira em praticamente todo o litoral nordestino. No ano de 1640, a chamada Restauração, definiu a vitória portuguesa contra a dominação espanhola e a consequente extinção da União Ibérica. Ao fim do conflito, a dinastia de Bragança, iniciada por dom João IV, passou a controlar Portugal.


Emanuella Sousa

14 de outubro de 2010

Quando o Mar Salvou a Humanidade

Pouco após o aparecimento do Homo sapiens, duras condições climáticas quase extinguiram a nossa espécie. Descobertas recentes sugerem que a pequena população que deu origem a todos os seres humanos vivos hoje sobreviveu explorando uma combinação única de recursos ao longo do litoral sul da África
por CURTIS W. MAREAN
COM A POPULAÇÃO MUNDIAL em torno de 7 bilhões, é difícil imaginar que o Homo sapiens já foi uma espécie em extinção. Mas, estudos de DNA de uma amostragem da população atual indicam que, no passado, nossos ancestrais sofreram um drástico declínio populacional. Embora os cientistas não tenham um cronograma preciso da origem e da quase extinção de nossa espécie, a partir de registros fósseis podemos supor que os nossos antepassados surgiram em toda a África pouco antes de 195 mil anos atrás. Naquela época, com clima ameno e comida abundante, a vida era fácil. Mas pouco depois disso, a vida começou a mudar. Já por volta de 195 mil anos atrás, as condições se deterioraram. O planeta entrou em uma longa fase glacial conhecida como Estágio Isotópico Marinho 6, que se estendeu até cerca de 123 mil anos atrás.

Não existe um registro detalhado das condições ambientais na África durante o estágio glacial 6, mas com base nas fases glaciais mais recentes e mais conhecidas os climatologistas supõem que foram quase certamente frias e áridas, e seus desertos eram provavelmente muito mais extensos que os atuais. Grande parte da massa terrestre teria sido inabitável. Enquanto o planeta estava sob esse regime de gelo, o número de pessoas caiu perigosamente: de mais de 10 mil indivíduos reprodutores para apenas algumas centenas. Estimativas de exatamente quando ocorreu esse gargalo populacional e sobre o reduzido tamanho dessa população variam entre os estudos genéticos, mas todos indicam que os seres humanos vivos hoje são descendentes de uma pequena população que habitou uma região da África durante essa fase de resfriamento global.

Comecei minha carreira como arqueólogo trabalhando na África oriental, estudando a origem dos seres humanos modernos. Mas meu interesse começou a mudar quando soube do gargalo populacional que os geneticistas começaram a mencionar no início da década de 90. Hoje os seres humanos exibem baixa diversidade genética em relação a muitas outras espécies, com população mais reduzida e áreas geográficas menos variadas, fenômeno que seria mais bem explicado pela ocorrência de um acidente populacional no início da existência do H. sapiens. Eu me perguntava: onde os nossos antepassados teriam conseguido sobreviver durante a catástrofe climática? Apenas poucas regiões poderiam ter tido os recursos naturais para apoiar os caçadores-coletores. Os paleoantropólogos discutem, de forma acalorada, sobre qual dessas áreas teria sido ideal. A costa sul da África, rica em mariscos e plantas comestíveis durante o ano todo, pareceu-me ter sido um refúgio especialmente bom em tempos difíceis. Assim, em 1991 decidi ir para lá e buscar os sítios com vestígios datados do estágio glacial 6.

Minha pesquisa dentro dessa área costeira não foi ao acaso. Eu tinha de encontrar um abrigo perto o suficiente da antiga costa com fácil acesso aos mariscos e alto o suficiente para que os depósitos arqueológicos não tivessem sido levados pelo mar 123 mil anos atrás, quando o clima aqueceu, e os níveis do mar se elevaram. Em 1999, meu colega sul-africano Peter Nilssen e eu decidimos investigar algumas cavernas que ele havia localizado em um local denominado Pinnacle Point, promontório que se projeta para o oceano Índico, perto da cidade Mossel Bay. Descendo a face íngreme do penhasco, deparamos com uma caverna que parecia particularmente promissora – conhecida simplesmente como PP13B. A erosão dos depósitos sedimentares situados perto da entrada da caverna expôs camadas claras de restos arqueológicos, incluindo lareiras e ferramentas de pedra. Melhor ainda, uma duna de areia e uma camada de estalagmite encobriam esses vestígios de atividade humana, sugerindo serem bem antigos. Ao que tudo indica, tiramos a sorte grande. No ano seguinte, depois de um criador de avestruz local ter nos construído uma escada de madeira de 180 degraus para permitir acesso mais seguro ao sítio, começamos a escavar.

Desde então, o trabalho da minha equipe na área PP13B e em outros locais das proximidades recuperou um registro notável de ações empreendidas pelos povos que habitaram essa região entre aproximadamente 164 mil e 35 mil anos atrás; portanto, durante o gargalo e após a população começar a se recuperar. Os depósitos nessas cavernas, combinados com análises do ambiente antigo de lá, permitiram chegar a uma explicação plausível de como os moradores préhistóricos de Pinnacle Point conseguiram sobreviver durante uma crise climática sombria. Os restos também desmistificam a ideia estável de que a modernidade cognitiva evoluiu muito depois da anatômica: evidências de sofisticação de comportamento são abundantes até mesmo nos níveis arqueológicos mais antigos na PP13B. Sem dúvida, esse intelecto avançado contribuiu significativamente para a sobrevivência da espécie, permitindo que os nossos ancestrais tirassem proveito dos recursos disponíveis na costa.

Certidão de nascimento



Na busca por petróleo, cientistas descobrem um dado geológico inédito: a idade do rio Amazonas. A informação é importante para conhecer detalhes da evolução da fauna e da flora da região.
Por: Júlia Faria
Publicado em 09/03/2010 | Atualizado em 09/03/2010
Certidão de nascimento
Vista aérea do Amazonas. Nanofósseis coletados em poços de petróleo em sua foz indicam que o rio se formou há cerca de 11,8 milhões de anos (foto: Nasa).
Um senhor de aproximadamente 11 milhões de anos: assim é o rio Amazonas, segundo revelam cientistas. A descoberta foi feita por um grupo de geólogos da Petrobras liderados por Jorge Picanço de Figueiredo, com a colaboração da geóloga holandesa Carina Hoorn, da Universidade de Amsterdã.
A pesquisa foi feita com dados colhidos em dois poços perfurados pela Petrobras para a exploração de petróleo no oceano Atlântico próximo à foz do rio Amazonas.  Os resultados foram publicados na revista Geology.
A análise de nanofósseis coletados nesses poços permitiu datar a pilha de sedimentos formada no oceano Atlântico pela descarga do rio Amazonas. Como os sedimentos mais antigos dessa pilha foram datados em aproximadamente 11 milhões de anos (durante o período geológico conhecido como Mioceno superior), concluiu-se que esta é também a idade de origem do rio Amazonas.
Antes da formação do Amazonas, a geografia da região era caracterizada por dois ambientes bem distintos
Antes da formação do rio Amazonas — no Mioceno médio e inferior, período compreendido entre 11,6 e 23 milhões deanos atrás —, a geografia da região amazônica era caracterizada por dois ambientes bem distintos.
Na porção ocidental da Amazônia (abrangendo a maior parte do estado do Amazonas e áreas do Peru e da Colômbia), existia uma grande área alagada com lagos rasos, rios e pântanos, que eventualmente era conectada com o mar por uma passagem situada no território onde hoje se encontra a Venezuela.
Já na porção oriental (estado do Pará e a parte este do estado do Amazonas), existia uma rede de drenagem que alimentava um rio que corria de oeste para leste edesaguava no Atlântico na mesma posição onde hoje está a foz do Amazonas. Esse rio foi chamado pelos autores do trabalho de protorrio Amazonas.

Conexão dos dois sistemas

O rio Amazonas se formou a partir da conexão desses dois sistemas, acontecida por volta de 11 milhões de anos atrás. Essa conexão foi feita em decorrência de dois fenômenos geológicos ocorridos nesta época.
Por um lado, existiu um intenso soerguimento do setor norte da cordilheira dos Andes, que acabou por erguer levemente toda a porção ocidental da Amazônia. Com isso, a vasta área alagada que existiu nessa região durante o Mioceno médio e inferior foi parcialmente assoreada e deslocada para o leste, em direção ao protorrio Amazonas.
O surgimento do rio resultou nodesenvolvimentode um ambiente completamente novo
Na mesma época, a massa de gelo na calota polar da Antártica aumentou drasticamente e provocou uma queda global no nível dos mares. Esse rebaixamento marinho global fez com que o protorrio Amazonas escavasse mais profundamente o seu leito. Com isso, sua cabeceira migrou para o oeste em direção à vasta área alagada da Amazônia ocidental. Em um determinado ponto, por voltade 11 milhões de anos atrás, houve a conexão dos dois sistemas e a origem do rio Amazonas como um rio transcontinental.
O surgimento do rio resultou no desenvolvimento de um ambiente completamente novo. Como consequência, houve uma alteração no hábitat das plantas e animais nativos.
 

Uma nova fauna

Embora adequada para algumas espécies, a mudança foi inapropriada para outras. A fauna aquática — rica em moluscos e pequenos crustáceos, característica da Amazônia enquanto foi um grande pantanal — desapareceu à medida que a região ganhava novas configurações.
“Apenas um pequeno grupo de espécies, que estava apto a viver no ambiente mais dinâmico formado com o rio, conseguiu sobreviver”, explicou à CH On-line Carina Hoorn durante sua passagem pelo Brasil no início deste ano. Botos, arraias e outros animais tipicamente marinhos que vivem hoje na Amazônia descendede criaturas que tiveramde evoluir para sobreviver em um ambiente de água doce, após a conexão com o mardesaparecer.
O rio Amazonas só ganhou sua forma atual há cerca de2,4 milhões deanos
Porém, só mais recentemente, há cerca de2,4 milhões de anos, o rio Amazonas ganhou sua forma atual. De acordo com Hoorn, os movimentos adicionais nas placas tectônicas na região dos Andes foram, provavelmente, responsáveis pela formação de uma conexão direta com o Atlântico.
“O canal amplo e raso do período Mioceno inferior deu lugar a outro, mais conciso”, afirma a pesquisadora. Conforme o rio direcionava-se ao oceano, muitos dos lagos que predominavam na região amazônica foram drenados e o depósito de sedimentos oriundos dos Andes na costa brasileira aumentou.