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5 de julho de 2010

Literatura Colonial: as premissas brasileiras.

Diversos viajantes europeus que estiveram no país durante a colonização do Brasil, no século 16, registraram suas observações sobre a terra. Fizeram-no por obrigação profissional ou motivos pessoais. Assim, seus textos são basicamente depoimentos e relatos de viagem, com a finalidade de apresentar aos compatriotas um panorama do Novo Mundo.

Sob a forma de cartas, diários, tratados ou crônicas esses textos informativos foram escritos principalmente por portugueses e compõem o chamado Período de Informação, Literatura de Informação, ou Literatura Colonial, nas cronologias da literatura brasileira.

O primeiro texto da época é a célebre "Carta de achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, D. Manuel 1º., escrita entre abril e maio de 1500, quando a frota de Cabral se preparava para deixar o Brasil, seguindo em direção á Índia. Nela, o escrivão da armada dá conta do descobrimento da terra, descrevendo seus aspectos físicos e os contatos com os nativos.

Da autoria dos portugueses, uma série de outras obras segue-se à carta de Caminha. Entre elas, podem-se destacar o "Diário da Navegação da Armada que foi à terra do Brasil", de Pero Lopes de Sousa, que narra minuciosamente a expedição de Martim Afonso de Sousa, em 1532, ou o "Tratado descritivo do Brasil em 1587", do senhor de engenho Gabriel Soares de Sousa, que procura traçar um amplo panorama da Colônia, em seus aspectos históricos, geográficos e econômicos.

Europeus de outras nacionalidades que aqui estiveram também deixaram documentos importantes sobre o Brasil de então. É o caso de "Duas Viagens ao Brasil" (1557), do alemão Hans Staden, que descreve pormenorizadamente o modo de vida dos tupinambás, dos quais o autor foi prisioneiro em 1554.

Missionários jesuítas também estiveram no Brasil, a partir do primeiro Governo-geral. Seu objetivo principal era catequizar os índios, convertendo-os ao cristianismo, mas seu trabalho acabou ultrapassando os limites religiosos e interferiu em diversos aspectos da vida colonial, particularmente com a criação de escolas e vilas.

Os jesuítas também nos legaram obras sobre o período, como as "Cartas", de Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, os fundadores da cidade de São Paulo.

Esse conjunto de textos produzidos no Brasil ou apresentando a Colônia como tema nos permitiu o conhecimento de diversos fatos históricos da época. Em sua totalidade, as obras documentam os vários aspectos da implantação do processo colonial em território brasileiro. Nesse sentido, sua importância histórica é indiscutível: trata-se do relato dos acontecimentos pela perspectiva privilegiada de participantes ou testemunhas oculares.

Mas não se esgota aí a riqueza desses textos, em que também se podem encontrar valores estéticos, que os aproximam de textos literários.

Dada sua finalidade principalmente informativa, a linguagem dos textos do século 16, em geral, não admite metáforas nem outros artifícios estéticos. Entretanto, o caráter narrativo da maioria das obras e a capacidade imaginativa dos autores contribuem para fazê-los superar o caráter utilitário dos relatórios burocráticos ou científicos.

Nas obras, a anedota, a aventura e a fantasia se misturam com as informações sobre a terra e os acontecimentos históricos, gerando narrativas com as quais o leitor não consegue deixar de se envolver, como num bom livro de ficção. O exemplo mais evidente é a obra de Hans Staden, repleta de peripécias e de episódios emocionantes, em que a vida do protagonista corre perigo.

Até numa carta de Anchieta podem-se encontrar, lado a lado, a expulsão dos franceses da Guanabara e as aventuras do padre para salvar índios cristianizados que caíram prisioneiros de uma tribo antropófaga. Sem falar em obras como a "História da Província de Santa Cruz", de Pero de Magalhães Gândavo, onde o aparecimento de um leão-marinho é narrado como se um terrível monstro marítimo viesse à terra para atacar a vila de São Vicente.

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